domingo, 9 de dezembro de 2007

Resumo: Ensinar para a sociedade do conhecimento - Educar para a criatividade - Andy Hargreaves

Capítulo 1:
Enseñar para la sociedad del conocimiento: educar para la creatividad [1]

Andy Hargreaves [2]

O capítulo está dividido em cinco tópicos e discute o papel do professor na sociedade do conhecimento. No tópico “A profissão paradoxa”, o autor relaciona as contradições a que os professores estão expostos no exercício de sua profissão. Os professores são cobrados pela missão de desenvolver uma sociedade capaz de inovar, ser flexível e compromissada com a mudança e, no entanto, sofrem com o achatamento salarial, as várias jornadas de trabalho, a falta de tempo e incentivo para auto-desenvolvimento, a falta de investimentos para melhoria de suas condições de trabalho. Se por um lado a profissão tem uma grande importância para a economia e o desenvolvimento, por outro, é desvalorizada por muitos grupos; por conseguinte, menos pessoas querem ingressar na docência e muito pretendem abandoná-la por falta de expectativas.

No tópico “Antes da sociedade do conhecimento”, o autor relata a evolução histórica da educação. Desde o surgimento da escolarização obrigatória, espera-se que educação pública salve a sociedade da miséria e da pobreza. Nos primeiros trinta anos que se seguiram a II Guerra Mundial, a educação era vista como um investimento no capital humano, no desenvolvimento científico e tecnológico, com um compromisso com o progresso. Houve uma ampliação no acesso a educação, porém poucas mudanças nos métodos utilizados.
A crise do petróleo colocou a educação como problema e não solução. Um grande pessimismo tomou conta dos professores, fazendo-os perder o interesse para o mercado, assim como o poder de negociação.

Nos anos 80, associações com intenções eleitoreiras relacionavam a educação com negócios, trabalho, ciência e tecnologia. Foi o início do controle do currículo, da difamação da escola pública de forma que os pais buscassem a escola privada e a aposentadoria “forçada” dos professores mais velhos por causa dos salários maiores.

Na década de 90, houve um aumento do trabalho burocrático por causa da descentralização administrativa. Como pretexto para as reformas no Ocidente foram feitas comparações de provas internacionais. Por influências externas, principalmente causadas pelo milagre econômico dos tigres asiáticos, as reformas criaram padrões que reduziram as decisões pedagógicas dos professores. No final dos anos 90, a crise dos países asiáticos deu início à economia do conhecimento que requer mais flexibilidade na aprendizagem e no ensino. Mesmo assim, as reestruturações não pareciam ser eficazes para melhorar a desigualdade educativa e social, não havia sinais para a redução da brecha na aprendizagem e no ensino entre as escolas ricas e pobres. África e América do Sul apresentavam quadro crítico de miséria. A esperança dos docentes de melhorar sua profissão mal se concretizava em algumas nações e em outras era um sonho irrealizável.

No tópico “Obter benefícios da sociedade do conhecimento”, o autor expõe que a mudança de século marca o fim da era de modernização industrial; surgem das cinzas do velho industrialismo uma nova economia e sociedade. Cita Daniel Bell que afirma que a mão-de-obra muda da produção de coisas para a produção de serviços, idéias e comunicação. Nessa fase, as melhores empresas na economia do conhecimento operam como organizadoras de aprendizagem em um trabalho de equipe apoiados na comunicação que são capazes de gerar e aplicar novas idéias conjuntamente. O grande mote é a criação e a inovação.

As dimensões da sociedade do conhecimento englobam:
  • A compreensão de uma esfera educativa, técnica e cientifica;
  • Modos complexos de processo e circulação de conhecimento e informação em uma economia baseada em serviços;
  • Mudanças no funcionamento das empresas e organizações para promover a inovação contínua com o objetivo de maximizar as oportunidades para a aprendizagem contínua.
    Para tanto é necessária uma infra-estrutura de tecnologia de informação e comunicação que agilize a aprendizagem.

No tópico “Desenvolver a sociedade do conhecimento”, o autor coloca que a sociedade do conhecimento é uma sociedade de aprendizagem. Ela funciona com a energia do cérebro para pensar, aprender e inovar. Os esforços devem se concentrar a fim de criar escolas para a sociedade do conhecimento porque o mundo atual é complexo e gera problemas que precisam de soluções instantâneas e eficazes. Para tanto é necessário que a criatividade se expresse em inovação e idéias úteis que exigem mudanças nas formas de ensino e aprendizagem. Em vez de controlar comportamentos, faz-se necessário desenvolver a leitura e a escrita e outros elementos básicos.

No último tópico “Ensinar para a sociedade do conhecimento”, o autor discute as novas com­pe­tências do professor, entre elas:

  • Promover uma profunda aprendizagem cognitiva
  • Aprender a ensinar de maneira diferente das que aprenderam ou foram ensinados
  • Comprometer com o auto-desenvolvimento profissional de forma contínua
  • Trabalhar e aprender em grupos
  • Incluir os familiares como parceiros na aprendizagem
  • Desenvolver e partir da inteligência coletiva
  • Construir uma capacidade para enfrentar mudanças e correr riscos
  • Promover a confiança nos processos

Os professores precisam desenvolver níveis mais altos de cognição, metacognição, ter um enfoque construtivista e engajar-se na aprendizagem cooperativa. Além disso, devem estar comprometidos com a sua aprendizagem, devem trocar experiências, participar de comunidades de aprendizagem que reflitam sobre a ação e favoreçam a pesquisa, a resolução de problemas e também usar a inteligência emocional.

Comentário sobre o texto:

Reconheci nesse capítulo similaridades com os assuntos que trabalho na prática na Educação Profis­sional ao longo de minha vivência com o tema competências desde 1994. São comuns: a relação com o desenvolvimento de competências, a educação flexível, a preparação de profissionais críticos, criativos, que saibam enfrentar situações novas e adversas, que trabalhem em equipe, que façam uso das tecnologias, que busquem sua cidadania, que cuidem do meio-ambiente e sejam comprometidos com o auto-desenvolvimento. O desafio está posto e precisamos reunir forças para empreender ações para a construção dessa sociedade do conhecimento.

Ao ponto do capítulo que trata das comparações com provas internacionais, relaciono com um recente artigo da revista Veja, intitulado “Educar é medir, ter metas e cobrar”. Os autores Camila Antunes e Marcos Todeschine colocaram que um novo indicador do MEC diz quanto cada escola do país deve progredir. Trata-se do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) que serve para medir a qualidade do ensino por escola, município e estado e é o primeiro a estabelecer metas de melhoria. Esse indicador é o resultado do cruzamento das notas dos alunos no Prova Brasil ou Saeb com a taxa de aprovação dos estudantes. O avanço desse referencial relatado pelo governo está no estabele­cimento de metas. Em minha opinião, ainda se constitui uma política de cobranças e incentivos.

Os resultados gerais foram baixos, a surpresa foi a de que o melhor ensino público do país apareceu em escolas sediadas em municípios pobres, pouco reconhecidos e que recebem pouco do governo. A fórmula “mágica” comum a essas escolas “ganhadoras” foi a de enfrentar os problemas com esforço e criatividade, tendo como principais impulsionadores, diretores engajados na missão de educar. Verificou-se que as escolas campeãs foram aquelas em que a equipe de educadores trabalhou mais, os professores prepararam as aulas e estudam(ram) mais. De minha parte coloco que no Brasil, as estatísticas nem sempre são levadas a sério. Então, diante disso, até que ponto esse indicador servirá como instrumento de avaliação? É uma questão que só o tempo poderá responder.

Indo além, nos tópicos “Obter benefícios da sociedade do conhecimento” e “Desenvolver a sociedade do conhecimento” vi semelhanças com as “Dez Competências para ensinar”, de Perrenoud, são elas:

  1. organizar e dirigir situações de aprendizagem;
  2. administrar a progressão das aprendizagens;
  3. conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam;
  4. envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
  5. trabalhar em equipe;
  6. participar da administração da escola;
  7. informar e envolver os pais;
  8. utilizar novas tecnologias;
  9. enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
  10. administrar a própria formação contínua.

Assim como Hargreaves, Perrenoud preocupa-se com práticas reflexivas que desenvolvam a pesquisa e a cidadania.

[1] Enseñar em la sociedade del conocimientoLa educación em la era de la inventiva
Capítulo 1 – Enseñar para la sociedad del conocimiento: educar para la creatividad – p. 19-48
Data de acesso: 26/6/07

[2] Andy Hargreaves – é professor e diretor do International Centre for Educational Change, no Instituto Ontário para Estudos em Educação da Universidade, na cidade de Toronto, Canadá. Sua missão é promover a justiça social e relacionar teoria e prática na Educação. Fonte: Andy Hargreaves Website. Disponível em http://www.andyhargreaves.net/. Acesso: 8/7/07.

Resumo feito em Julho/2007

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